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No domingo, dom Leomar toma posse como novo arcebispo de Santa Maria

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Fotos: Renan Mattos (Diário)
Dom Hélio, à esquerda, e Dom Leomar 

O domingo reserva um momento histórico para a Arquidiocese de Santa Maria, que completa 111 anos de criação. A partir das 10h, no Santuário Basílica da Medianeira, toma posse o arcebispo dom Leomar Antônio Brustolin, sucessor de dom Hélio Adelar Rubert. A celebração da posse canônica terá acesso restrito, mas será transmitida pela internet e TV.

Dom Hélio passa a ser arcebispo emérito e seguirá atuando na Catedral. Ano passado, ao completar 75 anos, seguiu os ritos do Vaticano e solicitou renúncia ao papa.

Dom Leomar, de Caxias do Sul, ocupava o posto de arcebispo auxiliar de Porto Alegre. Antes da posse, no sábado, presidirá uma celebração com familiares e sobreviventes da tragédia da Kiss. Ele terá a missão de administrar uma arquidiocese com 26 municípios e 39 paróquias. A religião católica predomina em Santa Maria, com 66% da população de acordo com o IBGE. Dom Leomar trabalhará com o legado de Dom Hélio e outros seis bispos, entre eles dom José Ivo Lorscheiter. 

TRANSMISSÃO NAS REDES

Missão de escuta e transparência

Para o novo arcebispo de Santa Maria é a providência divina que cruzou o caminho dele com o da arquidiocese do Coração do Estado. Caxiense, dom Leomar Antônio Brustolin, 53 anos, nunca imaginou que seria designado a suceder Dom Hélio Adelar Rubert na tarefa de conduzir os milhares de fiéis da região na fé em Jesus Cristo.

- Fico impressionado sobre como fui preparado misteriosamente por Deus para chegar até aqui - resume Dom Leomar.

A certeza na providência divina pode ser resumida em um objeto que o novo arcebispo carrega consigo desde a infância, vivida na Serra Gaúcha. No aniversário de 4 anos, Leomar recebeu do pai uma imagem de Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, comprada em Santa Maria. O presente foi dado em 15 de agosto de 1971. Neste domingo, 15 de agosto de 2021, exatamente 50 anos depois, Dom Leomar tomará posse como arcebispo de Santa Maria justamente na Basílica de Medianeira no dia em que completa 54 anos. Outras coincidências tornam o dia da posse ainda "mais abençoado" : na mesma data completa-se 111 anos de criação da Diocese da Santa Maria e 36 anos da inauguração oficial da Basílica da Medianeira.

Além da imagem, Dom Leomar carrega no nome a memória da família. Leomar é uma junção entre Maria Celeste, a mãe, e Léo, o pai, que morreu quando ele tinha 13 anos, sem presenciar a ordenação presbiteral, em 1992, nem a nomeação a bispo auxiliar da arquidiocese de porto Alegre, em 2015.

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O ARCEBISPO
Simpático e atencioso, de fala calma e bem articulada, dom Leomar recebeu a reportagem no arcebispado na manhã de quinta-feira. Durante cerca de meia hora, Leomar falou sobre os planos para a Arquidiocese, a relação com dom Hélio, os gostos pessoais e a acolhida no Coração do Rio Grande do Sul.

Ainda em período de transição, ele não conseguiu estabelecer uma rotina fixa, mas acorda às 6h todos os dias e celebra uma missa às 7h. À noite, parte do tempo é reservado para seus hobbies: livros e filmes. O torcedor do Juventude aprecia longas estrangeiros, principalmente aqueles que tratam de questões existenciais, de preferência dos cinemas turcos ou espanhóis. A dica é um filme disponível na Netflix, chamado Filhos de Istanbul. Já o livro preferido no momento é A Sombra de um Pai, do escritor polonês Jan Dobraczynski. Mas o arcebispo não se limita a ler. Ele também é escritor e autor de 47 livros, todos sobre a temática religiosa. Encontrar amigos e viajar também estão na lista dos principais passatempos.

OS PLANOS
Desde 5 de agosto em Santa Maria, Dom Leomar se diz surpreendido com a receptividade experimentada na cidade. O contato diário com Dom Hélio, a quem considerou um pai, também tem sido benéfico.

- Estou aproveitando a oportunidade para escutar as percepções dele. Imagino que meu pastoreio será uma continuidade com aspectos novos, próprios do nosso tempo. Cada um traz a própria colaboração - resume Dom Leomar.

A partir de segunda-feira, já empossado, o arcebispo pretende iniciar um trabalho de escuta. A ideia é visitar todos os padres pessoalmente.

- É uma escuta atenta e qualificada sobre o que existe. Quero escutar para ver, para enxergar o que está acontecendo. Diante disso, quero perceber como está a vivência da fé nesta região, que aspectos temos que avançar - explica.

Dom Leomar também pretende intensificar pelas vocações e mostra-se atento às particularidades da região, com atenção aos universitários e ao grande contingente militar. O arcebispo também quer caminhar próximo aos pequenos agricultores dos municípios da região e aos enlutados pela tragédia da Boate Kiss.Na questão administrativa, dom Leomar buscará exercer uma atividade totalmente transparente e alinhado ao Papa Francisco.

- Muita proximidade, muito diálogo, encontro, muita humildade e transparência. Isso é muito desafiador, por que você tem que continuamente rever sua própria vida. Não se trata apenas de sentar no gabinete e decidir coisas. Você tem que ser, mais do que fazer.

DIÁLOGO COM PAPAS
Dom Leomar teve contato com três papas. Ainda nos anos 90, fez doutorado em Teologia Sistemática em Roma. Neste período, teve a oportunidade de concelebrar com João Paulo II no apartamento dele. Por duas vezes, recebeu o abraço da paz do papa, hoje canonizado. À época, o cardeal Ratzinger, que viria a ser o papa Bento XVI, costumava jantar na casa onde dom Leomar residia. Dom Leomar também encontrou o Papa Francisco. Quando foi nomeado bispo auxiliar em 2015, foi a Roma e conversou com o Papa sobre os desafios

- Recordo que ele me disse, em italiano: "Avante, este é o caminho". É uma alegria muito grande poder conhecer os três papas - relata.

CONCILIADOR
Para dom Leomar, é importante que todos os humanos sejam cosmopolitas, no sentido de acolher e entender todas as pessoas e etnias.

- É um tempo de superarmos a ditadura do pensamento único, da rigidez da forma de pensar. Me preocupa muito que, na medida que avança o tempo, estejamos muito polarizados, bastante antagônicos. Isso não é o ser humano. O ser humano sempre foi um ser aberto ao outro. Você não é meu inimigo se pensa diferente de mim, vamos conversar - conclui. o novo arcebispo.

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"Enquanto a saúde me ajudar, vou me colocar a serviço", diz dom Hélio 
Mesmo próximo a se tornar arcebispo emérito, dom Hélio Adelar Rubert mantém o mesmo bom humor, simpatia e vitalidade de sempre. No ano passado, ao completar 75 anos, solicitou a renúncia ao papa, rito padrão a bispos e arcebispos que chegam a essa idade. A resposta só chegou quando já havia completado 76, em junho deste ano. Agora, Dom Hélio dedica os últimos dias antes da aposentadoria a auxiliar seu sucessor.

- Tem sido muito tranquilo. Procuramos acolher bem o novo arcebispo, auxiliar na mudança e na adaptação - relata Dom Hélio.

O arcebispo aventureiro, que gosta de escalar montanhas e abençoou a cidade em um helicóptero da Aeronáutica no dia de Corpus Christi, assumiu a então diocese em 2004, sucedendo o histórico dom José Ivo Lorscheiter. Sete anos depois, em 2011, tornou-se arcebispo com a elevação da diocese para arquidiocese.

Em 17 anos à frente dos católicos da região, Dom Hélio passou por momentos marcantes. Ele destaca a acolhida que teve em 2004, após a nomeação pelo Papa João Paulo II, as três visitas pastorais em toda a arquidiocese, a tragédia da Boate Kiss e o enfrentamento à pandemia.

Nascido em Sobradinho, mas com a história intimamente ligada a Santa Maria, ele permanecerá por aqui, em

serviço da arquidiocese.

- Eu me consagrei, desde que fui ordenado sacerdote, para servir o Senhor. Então, vi em conjunto com o novo arcebispo que seria melhor que eu ficasse na Catedral, onde há necessidade de um maior serviço. Enquanto a saúde me ajudar, vou me colocar a serviço - explica.

Para ele, a nomeação de dom Leomar foi um presente de Papa Francisco ao povo santa-mariense. O trabalho do sucessor será de desafios, com o contexto pós-pandemia e a necessidade de retomar o diálogo com os fiéis.

- O mundo se tornou diferente e precisa de respostas novas. Acredito que ele, com a capacidade que tem, a experiência no mundo universitário na capital do Estado, poderá ajudar muito a nossa juventude - avalia Dom Hélio.

Não há tom de despedida na fala do arcebispo:

- Vamos continuar nossa caminhada, em conjunto.

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